segunda-feira, 7 de junho de 2010

Final Copa do Mundo 2010



11 de julho de 2010. Johanesburgo. Argentina e Holanda revivem a final do Mundial 1978 que deu o primeiro título ao país mais futeboleiro do mundo.

Depois de uma campanha brilhante e de grandes atuações de seus jovens craques Van Persie, Van der Vaart, Sneijder e Robben, a Holanda chega mais uma vez à final depois de eliminar a Inglaterra.

Do outro lado a maior incógnita antes da competição começar, o melhor grupo de jogadores, mas que ninguém sabia como iriam jogar. Na semifinal uma fantástica vitória contra o melhor time da competição, a Espanha.

1999. Com os olhos roxos por uma bolada que levou na cara, Palermo erra três pênaltis em um mesmo jogo pela Copa América contra a Colômbia e entra para o Guinness Book.

O jogo começa fechado com a Holanda arriscando mais e a Argentina esperando por oportunidades de contra-ataques. Van Persie e Robben, um por cada lado, fazem com que Mascherano se junte à defesa.

1999. O Boca enfrenta o Platense. Pênalti. Palermo escorrega na hora da cobrança, cai e chuta com os dois pés marcando o gol.

Após 15 minutos de domínio laranja, o time se acha em campo, a Holanda diminuiu o ritmo e passa a ser um jogo de meio de campo. Van Bommel tem uma chance em um disparo de fora da área enquanto que Messi, em uma arrancada passa por três marcadores e chuta no pé da trave.

1999. Após um gol contra o Huracán pelo Campeonato Argentino, El Loco se converte no maior artilheiro da história do Boca.

Ao final do primeiro tempo a Argentina quase chega ao primeiro gol. Messi dá passe genial para Higuaín que toca por cima do goleiro, mas a bola, caprichosamente, toca a trave. A resposta holandesa vem em uma cobrança de falta de Sneijder que passa tirando tinta do poste.

1999. Palermo marca seu centésimo gol em campeonatos argentinos. Obviamente, tratando-se de Palermo, as circunstâncias não são as mais convencionais. Contra o Colón sente uma forte dor que, horas mais tarde seria constatada como rompimento dos ligamentos do joelho. Segue no campo e faz o gol. Isso mesmo, com ligamentos rompidos. Deve ter sido o único gol na história do futebol feito por um jogador com os ligamentos do joelho rompidos.

O primeiro tempo termina como começou, 0x0. Maradona é o primeiro a entrar no gramado, abraça a Messi, conversa com Verón, grita palavras de estímulo à Mascherano e Samuel e conforma parte do abraço coletivo de jogadores no centro do campo.

2000. Depois de um ano fora dos gramados, Palermo está no banco de reservas do Boca em jogo de volta pelas semifinais da Libertadores. O adversário é nada mais nada menos do que o River Plate. Últimos minutos do jogo, Palermo se levanta, é ovacionado pela torcida xeneize. Entra em campo. Primeira bola que recebe, domina mal, engana o zagueiro e chuta de canhota no canto do goleiro. Invasão de campo por parte de jogadores reservas, gandulas, dirigentes, Palermo é alçado ao ar aos prantos. Passam uns 5 minutos, nada da coisa voltar à ordem e o juiz decide acabar o jogo. Palermo, essa noite, não voltou ao gramado. Tocou duas vezes na bola: dominou e chutou para o gol.

O início do segundo tempo é de estudos do adversário. Maradona faz nenhuma modificação enquanto que a Holanda vem com o rápido e habilidoso Elia, jogador do Hamburg. Sempre pela esquerda, faz com que Jonás Gutierrez jogue como um quarto zagueiro.

2000. Na final do Mundial Interclubes contra o galáctico Real Madrid, Palermo faz os dois gols da vitória por 2-1.

O jogo começa a ficar mais aberto. Elia incomoda pela direita, entra Kuyt, a Holanda quer decidir o encontro. No lado argentino chegadas perigosas com Tévez e Messi. Temos cerca de 10 minutos de intenso movimento ofensivo no jogo.

2001. Palermo vai à Europa. Em jogo do Villarreal faz um gol e vai comemorar com a torcida. A pressão dos torcedores contra uma placa de publicidade faz com que essa ceda. A placa cai em cima de Palermo que acaba com a tíbia e o perônio fraturados. Inicia um período de quase um ano ausente dos gramados.

Com quase meia hora de joga a Holanda quase chega ao gol em uma cabeçada de Heitinga depois de escanteio cobrado por Sneijder e desatenção da defesa argentina. Em seguida Tévez disputa a bola com dois zagueiros, ganha na marra, rola para trás e Mascherano chuta. A bola desvia em Higuaín, mata o goleiro, mas sai pela linha de
fundo.

2008. Em um superclássico contra o River pelos Torneos de Verano, faz um gol pendurado ao travessão que é anulado pelo árbitro. Nesse mesmo ano, é eleito pela FIFA como o melhor cabeceador do planeta.

A final 2010 já está vivendo seu último quarto de hora. Naturalmente as seleções começam a se arriscar menos. Maradona coloca Bolatti para segurar mais o meio de campo. O jogo passa a ser tenso com poucos riscos. Maradona olha fixamente para o horizonte.

2009. O maior artilheiro da história do estádio mais místico do mundo, a Bombonera, faz um gol de cabeça do meio de campo há uma distância de quase 39 metros contra o Vélez no que é o gol de cabeça feito de mais distância na história. Um gol bizarro, um gol Palermo.

A Argentina troca passes. A Holanda vem de Babbel que poucas chances tem contra a implacável marcação de Samuel. Verón erra um passe no meio, Sneijder retoma a posse de bola e lança Van Persie. O atacante do Arsenal domina, dribla Heinze e acerta um chute na gaveta de Romero que nem se mexe. Aos 42 minutos a Holanda abre o marcador e mete a mão na taça. Maradona, apenas fecha os olhos por alguns segundos, vira-se para o banco e começa a pensar.

2010. Em jogo do Campeonato Argentino Palermo é atingido por um foguete dos seus próprios torcedores. Joga sangrando todo o jogo e faz um gol.

10 de outubro de 2009. Penúltimo jogo da seleção argentina pelas Eliminatórias. Peru, lanterna e já com nenhuma chance e com nenhuma ambição é o adversário. O Monumental de Núñez é o cenário. Argentina sai na frente com gol de Higuaín e dá a impressão de que será apenas um trâmite o confronto. Começa uma tempestade inacreditável sobre a capital argentina. Quase não se vê a bola. Aos 44 minutos do segundo tempo um tal de Fano empata o jogo. Com esse resultado o país mais apaixonado pelo futebol estaria quase fora da classificação direta ao Mundial e correndo muitos riscos de não conseguir nem a vaga para a repescagem considerando o mau momento e o difícil compromisso que teriam contra o desesperado Uruguai em Montevidéu. Mas havia Palermo. O homem dos três pênaltis perdidos num mesmo jogo, o homem da placa quebrando sua perna em pedaços, o homem atingido por um foguete de sua própria torcida, o homem que acabou um superclássico antes do tempo, ele, Palermo, na chuva, impedido, fez o gol que deu vida ao verdadeiro país do futebol, ou melhor ao País Futebol.

Outra vez a chuva. Começa uma forte chuva torrencial, uma típica chuva de verão em pleno inverno sul-africano. O técnico holandês se recolhe à casa-mata. Maradona segue impassível na beira do gramado.

Maradona não desperdiça mais de 10 segundos. Pode-se ler em seus lábios quando diz: “Martín, andáte, entrá y empatá esta mierda”.

Palermo não aquece. Tira o abrigo, beija Maradona, grita com todos os companheiros que estão no banco de reservas que nada respondem e entra. Ele sabe que é predestinado, sabe que é diferente.

A chuva torna o jogo ainda mais dramático. Os jogadores gritam entre si, não se entendem, jogam no instinto.

Palermo entra e é mandado para fora. Entrou sem autorização da arbitragem. Agora ele tem a autorização. Antes de colocar o segundo pé no gramado já vê o cartão amarelo por não ter esperado a autorização.

O jogo segue, a Argentina no desespero dando balões para a área da Holanda que, com 10 jogadores na área respondem com balões para onde o nariz estiver apontando. Em um rebote Pastore chuta, a bola desvia em alguém e sai pela linha de fundo. Escanteio.
Maradona não se mexe há mais de 5 minutos, praticamente não respira. Grita algo.
Ninguém entende. Verón se aproxima. Ouve uma instrução.

O mesmo Verón cobra o escanteio no primeiro pau. A bola desvia na nuca de algum jogador argentino e depois de bater em algo entra. Onde bateu a bola poucos sabiam devido à intensidade da chuva. Os jogadores comemoram enlouquecidos, Maradona é contido pelo árbitro reserva, poucos sabem como entrou a bola até o momento em que Palermo surge, com sangue em seu imenso nariz. Sim, a bola bateu no nariz de Palermo
e entrou. Palermo empatou o jogo com um gol de nariz.

Enquanto era atendido fora de campo, o juiz encerrou o jogo.

O sentimento entre os jogadores em campo segue sendo uma mescla de incredulidade, êxtase, euforia e nervosismo. Todos se juntam, ambos os times se reúnem para ouvir recomendações de seus treinadores. Palermo é ovacionado pela imensa torcida argentina no estádio. Maradona o abraça, lhe agradece. Todos procuram por ele.

Palermo é o centro do espetáculo.

Mas ainda há jogo.

A prorrogação começa e se desenvolve em um ritmo demasiado cuidadoso por parte de ambos os times. A chuva segue, Argentina e Holanda pouco arriscam. Nas duas cobranças de escanteios em favor do time sul-americano, Palermo é vigiado de perto pela defesa europeia.

Terminam-se os primeiros 15 minutos com os jogadores extasiados dentro de campo. Já não há mais modificações para serem feitas em ambos os times.

Começa o segundo tempo da prorrogação. A intensa temporada do futebol europeu, a exigência de uma copa do mundo, a prorrogação, a chuva, todos esses fatores esgotaram as energias dos 22 homens em campo.

A Holanda troca passes esperando os pênaltis. Maradona manda apertar a saída de bola. Somente Messi e Tévez ainda têm condições de correr.
Messi pega a bola no meio de campo, passa por dois marcadores e é derrubado na intermediária.

Maradona manda todo mundo para a área deixando apenas Mascherano e Gutiérrez na defesa.

Messi vai para a cobrança. Alça a bola na área, a defesa holandesa despacha com dificuldade e aparece ele, Palermo, de novo e emenda um chute incompreensível de primeira, de perna canhota. A bola descreve uma trajetória inimaginável, o estádio está mudo, Don Diego, o maior de todos os tempos de costas para o estádio olhando fixo para o banco de suplentes que explode em um grito uníssono de gol.

É o gol do título. É o gol do jogador das histórias impossíveis e incríveis. É gol da Argentina. É a Copa do Mundo de volta ao País Futebol depois de 24 anos. É a coroação de Maradona mais uma vez como o dono do mundo do futebol.

É o fim das frustrações, da impotência, das injustiças, das finais não jogadas, dos malditos sorteios, dos erros de arbitragem, dos grupos da morte, dos sorteios anti-doping.

É a festa da torcida mais fantástica do mundo, é chuva agora de papeis picados, é Maradona nu no Obelisco! E, para completar, enquanto o País Futebol celebra, o país do futebol lamenta.

La pelota no se mancha.

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